Thursday, July 22

tens sido um sonhador, infiel à realidade e às promessas do futuro, tens gozado soberano as batalhas ganhas aos teus mais futeis devaneios. é para ti um dever sonhar sempre, não querer mais, nem ser mais. pelo menos não mais que um espectador dos seus próprios sonhos, construindo na sua vasta imaginação altos e possantes fortes, muralhas e tantos outros edifícios que te defendam do inimigo. não invejas os desejos com nexo, nem a febre de sentir, aproveitas as misérias de um homem que vive no tédio de uma sala branca e vã, o tédio de uma vida. riste-te da ironia e saboreias o ridículo, o absurdo e o paradoxo. e sentes-te feliz nesse teu vácuo. no fundo, nessa tua imortalidade de espírito, que é a inexistência de alma. tens sido um apaixonado, entregas-te ao prazer carnal, usufruis das delícias de se perder no corpo de uma mulher, de sofrer dos males e quimeras que advém da paixão. as imagens trémulas, os sonoros gemidos, os perfumes, um luar confuso. tens sido um combatente, não choras pelo que a vida te traz ou leva, ou pela incoerência do sonho em que te permaneces acordado, ou até pelo declive do abismo. perdes-te no destino, nas emoções perdidas, na inconsciência. mas nada te fere os sentidos. manténs-te firme e infeliz na tua insensibilidade, na tua sensaboria. tudo à tua volta é um universo vulgar e nu, acabas por sobreviver no sonho, e no sonho vives.
a liberdade humana.

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