Tuesday, April 12

pelas densas agitadas ruas de lisboa rastejava, erguendo sofregamente a cabeça aos céus. intensos eram os raios que lhe iluminavam o rosto, mas que frouxamente lhe iluminavam a alma; faz décadas perdida naquele labirinto histórico. a sombra tapava agora a luz quente da primavera. ergueu o braço, tremulamente estendeu a mão, tão sujos pelo tempo. mendigou um pedaço de pão a uma tal de je ne sais quoi, perfumada e altiva. respondeu-lhe, a cocote, com tal arrogância que mais valia ter-lhe escarrado o rosto. o pobre, que já nem tinha pernas que andassem, deixou-se ficar, cantarolando baixinho umas cantilenas já antigas, de tempos áureos, de eras medievais. lentamente adormeceu, num sono de sempre e para sempre, profundo. eterno.

era o mendigo de lisboa.

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