Sunday, July 17

Acabou o dia na cidade, como no outro lado do rio. E seria certo, numa hora destas, não ter alcançado a realidade humana para que a nossa vida se destina. O fim do dia, meio frio, meio morno, alastrava-se por ruas e ruelas, afortunados e azarentos, da mesma maneira que uma brisa ligeira. Toda aquela frescura lenta do pôr-do-sol sem contornos, era análogo de uma alegria que não sentia. Tudo teria um fim, como o próprio fim do dia que adormecia a encosta. Fiquei então suspensa, entre as avenidas, perto do cais. Haviam aglomerados de casas, e havia a noite. Havia lisboa ao luar e o meu cansaço de casa. Os pequenos vultos que comigo se cruzavam eram caricaturas da alma humana, grandes narizes, reles senhores. Viscosidades, lesmas da vida. Tudo ali era anónimo, e isso agradava-me. Esquecia-me por instantes que tudo vai, nada fica, e o extraordinário é que, nenhuma dessa gente tinha importância, em qualquer dos sentidos, para mim. Nunca senti tanta simpatia em relação à humanidade.
Que noite.

No comments:

Post a Comment