Monday, October 24

Dizem que só nos mais melancólicos momentos encontramos as palavras certas. Mas de incertezas é feita a vida, e nem por isso desistimos um mero segundo. Também dizem que não há definição, no entanto já to escrevi e descrevi tantas vezes, tantas que perdi a conta. Desabafos do coração, este que é teu.
Muitas das melhores coisas nascem de coincidências, mal-entendidos. A minha melhor coisa nasceu na cave de um casarão. No meio de memórias tão poeirentas, encontrei algo que não me lembrava ter guardado naquele cantinho. Algo que estava de alguma maneira tão presente, mas que, nem dava conta. Parecia que tinha nascido comigo, a afinidade era enorme, e despertava em mim mil e um sentimentos. Comecei a subir as escadas a ela agarrada, e à medida de subia, o escuro da cave ia aclarando, desaparecendo e deixando apenas um vazio no espaço e no tempo. As memórias desvanesciam-se continuamente até que se extraviaram. Subia, e subo, as escadas, e ia alcançando a felicidade efémera dos momentos, os consequentes sorrisos, o sentimento mais complexo e mais confortante de todos… A minha vista foi-se tornando sucessivamente mais nítida, e agora vejo tudo claramente.
Nasceu de um equívoco, de várias idas à cave e da convivência ócular com o relevo do que é a melhor coisa que me aconteceu. Ora, palavras para quê.

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