Thursday, June 20

não, não creio em mim. em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? não, nem em mim.. em quantas mansardas e não-mansardas do mundo não estão nesta hora génios para si mesmos sonhando? quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, e quem sabe se realizáveis, nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? o mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. tenho sonhado mais que o que napoleão fez, tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que cristo, tenho feito filosofias em segredo que nenhum kant escreveu. mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, ainda que não more nela serei sempre o que não nasceu para isso, serei sempre só o que tinha qualidades, serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta e cantou a cantiga do infinito numa capoeira,  e ouviu a voz de deus num poço tapado.  
crer em mim? não, nem em nada.  

No comments:

Post a Comment