Sunday, September 4

um pouco mais de nós podes dar uma centelha de lua, um colar de pétalas breves ou um farrapo de nuvem; podes dar mais uma asa a quem tem sede de voar, ou apenas o tesouro sem preço do teu tempo em qualquer lugar; podes dar o que és e o que sentes sem que te perguntem nome, sexo ou endereço; podes dar em suma, com emoção, tudo aquilo que, em silêncio, te segreda o coração; podes dar a rima sem rima de uma música só tua a quem sofre a miséria dos dias, na noite sem tecto de uma rua; podes juntar o diamante de uma dádiva ao húmus de uma crença forte e antiga, sob a forma de poema ou cantiga; podes ser o livro, o sonho, o ponteiro do relógio da vida sem atraso, e sendo tudo isso serás ainda mais, anónimo, pleno e livre, nau sempre aparelhada para deixar o cais, porque o que conta, vendo bem, é dar sempre um pouco mais, sem factura, sem fama, sem horário, que a máxima recompensa de quem dá é o júbilo de um gesto voluntário.
e, afinal, tudo isso quanto vale?
vale o nada que é tudo, sempre que damos de nós, o que, sendo acto de amor, ganha voz e torna-se eterno por ser único e total.

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