Thursday, January 31

estive à dez minutos atrás na varanda do meu quinto andar a observar a cúpula invisível entre o céu e o enorme lego de betão, e a sentir-me um inquilino passageiro desta pensão de uma estrela, perdida na imensa cidade negra a que damos o nome de universo. curiosamente parece que é o único sítio que temos para passar a longa noite que nos espera, e é aí que eu saio para apanhar a frequência. como que a comer um ponto e a cagar um verso, no meu prisma a encaixar, provavelmente no de outros feito um filósofo de merda. mas a vida é isso mesmo, um monte de gente a fazer conta que se entende e ninguém sabe dizer o que viveu. por isso nos pedem que caminhemos alegres para o precipício sem questionar. porque estaremos sempre longe.. mas longe rapidamente fica perto, e perto rapidamente passa por nós. eu não quero mandar-te para baixo, mas eu sei que me entendes, tu também tens medo de morrer. toda a gente tem, só que normalmente evocamos montes de problemas para nos convencermos que estamos ocupados a resolver uma situação importante, quando não tem importância nenhuma. entretanto, o tapete rola, e nós irrita-mo-nos com uma inevitabilidade e nos nossos sonhos, dizemos - "torna-me imortal, torna-me imortal! eu não vou aguentar deixar de existir!" - e é aí que eu entro para sair da frequência, seduzir-te com os meus sonhos. tu não vês como eu empreendo? e como eu, mais um milhão de sonhadores leva com ele muitos braços de outros acéfalos na lotaria dos ideais, descrentes, beijando o número do bilhete. mas quero dizer-te que a viagem é tua, e não quero empurrar-te à força para a rua. se eu falhar vou passar de deus a carrasco, embalsamado e metido dentro de um frasco para te lembrares da mentira. 

mas a verdade, é que ganhamos sempre. 

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