Friday, March 5

dez lamurias por gole.

era uma vez. era uma vez um tal de olhos escuros, penetrantes, mortos pelo cansaço de viver; voluptuoso. pelo cigarro entalado nos dedos, era deduzivel que tivesse os pulmões encardidos, cobertos pelo negrume da nicotina. o bendito tabaco que se acumulava no forte de um homem fraco. carregava no braço esquerdo um simbolo nautico, seria marinheiro, ou apenas um naufrago de mas memorias.
comprava o jornal no mesmo quiosque, a mesma hora, todos os amanheceres. homem de rotinas, quem diria.
enquanto me entusiasmo com a escrita, lembro-me que tinha cabelos curtos, meio grisalhos, e usava um blusão de largos ombros, castanho.
encontrava-o na avenida, pelos entardeceres de inverno; coincidência ou destino. sacudia as goticulas de chuva do velho casaco, enquanto ao horizonte, passando o azul imundo do Tejo, a apaixonante e arcaica lisboa.

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